NR1 – O limite entre pressão e negligência

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O ambiente corporativo nunca foi e nunca será isento depressão.Resiliênciaé virtude, mas não deve ser confundida com tolerância à negligência. Os efeitos cumulativos da pressão, quando associados a jornadas desmedidas, assédio velado e ausência de clareza institucional, vêm causando sérios danos a muitas pessoas. A nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR1) não transforma o trabalho em zona de conforto. Ela apenas reconhece que, assim como os riscos físicos, os riscos psicossociais também podem comprometer a produtividade, o discernimento e a capacidade de entrega de qualquer profissional.

Relatório doChartered Institute of Personnel and Developmentindica que 76% dos afastamentos no Reino Unido, em 2023, tiveram origem em causas psicossociais. No Brasil, a ANAMT (Associação Nacional de Medicina do Trabalho ) destaca que os transtornos mentais já superam as lesões físicas como principal causa de afastamento prolongado. Esses dados revelam umatendênciainequívoca: ambientes disfuncionais geram impactos econômicos, jurídicos e humanos.

A norma, no entanto, não infantiliza o colaborador. Pelo contrário, pressupõe que ele tenhaautonomiapara identificar seus limites, comunicar-se com clareza e contribuir para um ambiente de alto desempenho. A responsabilidade individual não se opõe à saúde emocional; ela a exige. É dever do profissional cuidar de sua estabilidade e atuar como agente ativo na construção de um ambiente viável. A NR1 não pretende estatizar o bem-estar. Seu mérito está em induzir uma cultura de gestão de riscos, em que líderes e liderados compartilham a responsabilidade pelo ambiente que constroem. Não se trata de coibir exigência, mas de combater práticas ineficientes que comprometem o desempenho coletivo.

A exigência legal não substitui a maturidade organizacional. Empresas que integram asaúde mentalà estratégia colhem ganhos concretos. Estudo do MITSloan School of Managementaponta que ambientes com alta confiança interna apresentam 47% mais chance de superar metas. Não por paternalismo, mas porque clareza e coerência institucional potencializam os resultados da equipe.

A NR1, portanto, não impõe tutela, impõe padrão. E o colaborador maduro, que lidera a si mesmo, saberá que dignidade e performance caminham juntas quando há reciprocidade entre autonomia e estrutura.

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